top of page
Logotipo-sem-fundo.png

Obesidade mórbida: quando viver passa a ser um peso

  • Foto do escritor: Renata Evarini
    Renata Evarini
  • 5 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

Por Renata Evarini, Psicóloga, CRP 14/02887-3

"Estou cansada. Não vivo, apenas sobrevivo".

Esse foi o desabafo que escutei de uma paciente.


Certa vez, acompanhei a internação de uma paciente acometida pela obesidade mórbida que tinha muita dificuldade para respirar. Entre uma palavra e outra fazia pausas para poder respirar. Enquanto se esforça para respirar, com ajuda de um cateter, me confidenciava que se sentia cansada de viver, porque não vivia, apenas SOBREVIVIA. Convivia diariamente com o medo de morrer. Estava cansada.... de viver. Lidar com os problemas, tristezas, frustrações e as preocupações já tinha se transformado em um peso que seu corpo já não conseguia mais suportar. Sentia pânico, presa em um corpo que doía... doía também na alma.

A dor do corpo se mistura com a dor da alma! O corpo passa ser a expressão de tudo aquilo que não pode ser dito ou sentido, de um sentimento que não pode ser nomeado. O acúmulo de gordura é também o acúmulo de raiva, tristeza e decepção.

A obesidade passa a ser a ponta de um iceberg, escondendo uma intensidade de emoções e sentimentos. O alimento assume um simbolismo e um significado que vai além da função de sobrevivência. A comida se torna a principal via de comunicação. Come para comemorar e come também para compensar as frustrações.

Nesse sentido, há uma dificuldade em diferenciar os sentimentos, como tristeza, raiva, ciúmes, inveja, alegria,... Da mesma forma, há também uma dificuldade para diferenciar a fome e o apetite. Enquanto a primeira diz respeito às necessidades fisiológicas, de sobrevivência, o segundo (apetite) está ligado às emoções. Mas no caso do obeso mórbido, esta diferenciação é falha.

Para se libertar desse "corpo pesado", é preciso ir além da dieta e da atividade física. É preciso encarar uma transformação de dentro para fora, que tem a cirurgia bariátrica como ponta pé inicial.

Ao decidir pela cirurgia, o indivíduo deposita uma série de expectativas e fantasias. Sentindo-se impotente, ele vê na cirurgia a possibilidade de frear a voracidade pela comida. Algo que, sozinho, não se sente capaz. Inicia-se então uma jornada em busca de qualidade de vida, de recuperação da saúde física e resgate da autoestima.

Nessa perspectiva, o psicólogo tem um papel fundamental, auxiliando as pessoas acometidas pela obesidade mórbida a “minimizar o peso” de seus sofrimentos emocionais, suas angústias, ansiedades, tristezas e frustrações. Além disso, é preciso que a pessoa que será submetida à cirurgia bariátrica esteja envolvida em um processo ativo de mudança, interna e externa.

Compreender qual a função do alimento na vida da pessoa; auxiliá-la a identificar seus sentimentos e a conhecer seu corpo, trabalhando a distorção da imagem corporal são alguns objetivos do acompanhamento psicológico na fase pré e pós operatória.

Não será uma jornada fácil, exigirá um esforço tão grande como é hoje carregar esse corpo pesado. Mas é também uma esperança de voltar a viver, e não apenas sobreviver.


Fonte:

EVARINI, Renata; GONÇALVES, Cely Cristina Martins . O uso da técnica "Como Você Se Vê Hoje" (Desenho da Figura Humana) em pessoas acometidas pela obesidade mórbida. Revista de Ciências da Saúde. v. 3, n.1, p. 87-92, 2003.

Comments


© 2020 por Renata Evarini. Todos os direitos reservados. 

bottom of page