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Existe espaço para sentimentos e emoções no hospital?

  • Foto do escritor: Renata Evarini
    Renata Evarini
  • 1 de mar. de 2021
  • 3 min de leitura

“É justamente na lacuna do que a ciência não consegue responder é que o subjetivo tem o seu espaço”.



Por Renata Evarini, psicóloga, CRP 14/02887-3


O motivo principal de internação do paciente é físico, quando seu corpo está doente. Isso é um fato! Mas será que é possível olhar o paciente para além do seu corpo físico? Como compreender o paciente além de uma perna quebrada, de um apêndice inflamado ou de um rim que não funciona?


Enquanto o médico trata, o psicólogo cuida dos sentimentos do paciente em relação ao seu corpo adoecido. Quando um órgão adoece, todo o corpo fica doente!


Em linhas gerais, o trabalho de um psicólogo no hospital é cuidar das questões subjetivas, isto é, dos medos, das angústias e das ansiedades da pessoa adoecida.


Aos poucos, as equipes multidisciplinares (enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, etc.) foram chegando e dividindo espaço com os médicos e os hospitais, ampliando o olhar para o cuidado do paciente.


Ainda assim, os colegas da equipe multi também têm dificuldades em identificar o papel do psicólogo no hospital. Afinal, como entender o que não é visível, que não pode ser visto e não aparece nos exames?


E muitos perguntam: Qual o lugar do subjetivo no hospital? Em um local em que há a supremacia do orgânico (físico) sobre a subjetividade, falar de sentimentos e emoções é um grande desafio.


O subjetivo pode ser evidenciado em vários momentos: nas entrelinhas, no olhar de sofrimento do paciente, na reação somática, nos exames inconclusivos e sem respostas, por exemplo.


É na lacuna do que a ciência não consegue responder que o subjetivo tem o seu espaço. Ao psicólogo interessa os incômodos e impasses que o saber da ciência tende a eliminar. Isso significa suportar o que vai na contramão da ciência: suportar as perguntas sem respostas. E mais: suportar a ideia de que, às vezes, a resposta não é a cura.


As regras e as rotinas no hospital são as mesmas para todos. Mas a forma como cada um reage a elas, é singular. Nesse sentido, o papel do psicólogo é “autorizar a subjetividade”, propiciando espaço para a livre expressão dos sentimentos. E, às vezes, incluir exceções às regras. Quer ver um exemplo: a regra geral é que criança não entra no hospital. Mas será que é possível flexibilizar uma visita de uma criança que precisa se despedir de algum familiar muito próximo que está morrendo?


A equipe nem sempre consegue alcançar qual é o papel do psicólogo. Mas ela solicita o atendimento para o paciente porque tem esperança de que esta ciência possa contribuir, respondendo às perguntas que ficaram sem respostas. E aí, nem sempre a equipe sabe o que pedir. Muitas vezes essas solicitações de atendimento chegam de forma incompleta, ou geral demais, ou com termos técnicos. Mas cabe ao psicólogo ajudá-los a construírem a pergunta.


Num local em que o concreto e visível impera – o hospital -, o simbólico tem um caminho a ser desbravado. Esse caminho é um processo de construção, que tem como guia o próprio psicólogo. É este profissional que é responsável por apresentar o que faz e como faz.


Corpo e mente: um encontro que é possível, graças à presença de uma equipe multidisciplinar no hospital. Ouvir o paciente além da sua dor física possibilita não só um olhar mais integral e humanizado, como também a confiança. Essa relação de confiança entre paciente e profissional tende a favorecer a adesão do paciente ao tratamento.


Quando o paciente confia no profissional que está cuidando dele, sente-se compreendido e cuidado, vê sentido e necessidade de estar internado, então ele permanece.


Referência:


ELIAS, V. A.; PEREZ, G.H.; MORETTO, M.L.T.; BARBOSA, L.N. F. Horizontes da psicologia hospitalar: saberes e fazeres. São Paulo: Editora Atheneu, 2015.

 
 
 

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