BEBÊS PREMATUROS = PAIS PREMATUROS
- Renata Evarini
- 1 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Por Renata Evarini, psicóloga, CRP 14/02887-3
Tornar-se mãe e pai é um processo de transformação!
Antes de tudo, é preciso haver um desejo e uma decisão de ter filhos, ainda que de forma distorcida. Mesmo em uma gravidez inesperada ou indesejada, ainda sim existiu algum desejo, alguma motivação, mesmo que inconsciente.
A gestação acontece, e junto com ela nasce também uma infinidade de sentimentos, angústias e ansiedades que estão envolvidos no processo da maternidade. Muitos deles, ambivalentes, perpassando pela alegria de gerar uma vida, e também por medos e inseguranças.
Surgem as expectativas e projetos para esse filho. Inicia-se a preparação para a chegada desse bebê. Os pais começam a imaginar como vai ser, com quem vai se parecer, fazer planos,... esse é o bebê imaginário.
O bebê nasceu: opa, mas onde está aquele bebê?
E se o parto precisou se antecipar por algum motivo? O bebê nasceu prematuro! Ele não nasceu pronto, terá uma caminhada até poder receber a alta hospitalar e ir para casa. Junto dele tem seus pais, que também não estavam preparados (logisticamente e emocionalmente) para sua chegada antecipada. São, também, pais prematuros, e irão passar por um processo junto com o bebê.
A partir de agora os pais precisarão lidar com o bebê real. Antes, porém, vão ter que enfrentar um processo de luto interno: o luto pelo bebê idealizado. Instalam-se intensas emoções: de medos, dúvidas, incertezas e culpa.
Os pais necessitam que o ambiente reforce seus novos papéis e funções, mas quem melhor executa isto, é o próprio bebê. Ocorre que este bebê prematuro ainda não tem condições. Ele precisa de ajuda, e os pais também.
Esse bebê necessitará de internação, muitas vezes, prolongada. Serão dias ou meses. Durante esse período os pais são convidados, e até convocados a permanecerem junto dele. A rotina da família toda é alterada. A prioridade passa a ser a recuperação da saúde do bebê.
Além de lidar com o luto pela perda do bebê idealizado, os pais precisam lidar com a separação desse bebê logo no nascimento. O bebê vai para a UTI neonatal e a mãe recebe alta hospitalar voltando para casa com o colo vazio. Impossibilitada de realizar os cuidados com seu bebê (como amamentar, dar banho, trocar e até pegar no colo), sente-se impotente. Vivenciando sentimentos tão intensos, sente-se fragmentada internamente; e por isso com dificuldade de estar inteira e disponível para o bebê.
Com esse cenário, a construção do vínculo entre pais/bebê também é afetada. Torna-se um processo que requer um trabalho psíquico intenso e, muitas vezes, demorado.
Nesse momento é importante uma postura acolhedora e humanizada da equipe que cuida dessa tríade (mãe, pai, bebê).
Quando as angústias dos pais podem ser acolhidas pela família e pela equipe, esse processo se torna menos sofrido. A equipe não só ajudará aos pais, mas especialmente ao bebê, que terá a oportunidade de se relacionar e conviver com uma mãe e um pai mais fortalecidos e seguros.
Fonte:
CARDOSO, A.D.; TERRA, L.S.; ROCA, M.; EVARINI, R. E agora? Nasceu o bebê... desenvolvimento relacional entre a mãe e o seu bebê prematuro. Revista Biblioteca Virtual em Saúde, 2018. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/bivipsil/resource/es/psa-7584
KLAUS, M. H., KENNEL, J. H. & KLAUS, P. H. Vínculo: construindo as bases para um apego seguro e para a independência. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
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