O que sente o paciente no hospital?
- Renata Evarini
- 5 de ago. de 2020
- 3 min de leitura

Por Renata Evarini, psicóloga, CRP 14/02887-3
O que sente uma pessoa quando descobre uma doença? Ou que se encontra em uma situação de hospitalização? O que passa na mente dela? Quais as reações e sentimentos mais comuns?
São questões complexas e individualizadas.
O hospital é um lugar destinado a recuperação da saúde. Pode assumir vários significados e representações simbólicas para cada indivíduo.
Por um lado, representa um lugar seguro, do qual se espera ajuda e alívio dos sintomas que causam dor, significando a busca dos recursos contra os males.
Por outro lado, o hospital é também um ambiente desconhecido e imprevisível, que reflete e demonstra a fragilidade do homem. O indivíduo internado pode experimentar sentimentos como angústia, ansiedade, impotência, medos, fantasias, além do sentimento de solidão e abandono.
No processo de internação há uma ruptura da trajetória de vida, uma vez que o indivíduo se encontra afastado de sua família, trabalho, escola, vida social e todas as suas demais atividades. Está sujeito a regras e prescrições impessoais; é destituído de sua própria roupa; está inserido em uma rotina em que sua intimidade fica exposta a estranhos.
O hospital é cercado de mitos e fantasias relacionadas ao sofrimento e a morte, muitas vezes com representações sociais negativas. Como consequência, este cenário costuma causar impactos psicológicos no indivíduo, conforme a percepção, estrutura emocional, recursos internos, além da própria natureza e prognóstico da doença.
A descoberta de uma doença tende a provocar um desequilíbrio emocional, trazendo angústia e sofrimento físico e mental. Ela (a doença) passa a ser um inimigo a ser combatido. Torna-se uma ameaça à vida, remetendo ao sentimento de morte.
Assim como o hospital, a doença também pode ter várias representações para o indivíduo. Dentre elas, observa-se que a punição, a culpa e o castigo costumam ser comuns. Por vezes, o indivíduo acredita que desenvolveu determinada doença como um castigo a “erros” por ele cometidos, e que agora está sendo punido. Instaura-se a culpa.
A notícia do diagnóstico pode propiciar reações psíquicas específicas, como choque inicial, medo, depressão, choro e desespero. Instala-se angústia e ansiedade, que, por sua vez, vão desencadear uma série de mecanismos defensivos na tentativa de reestabelecer o equilíbrio perdido.
As defesas psíquicas são reações ou manifestações, na maioria das vezes inconscientes, que têm como objetivo proteger o ego dos perigos. As mais comuns observadas em hospitais são negação, regressão, intelectualização e projeção.
A negação talvez seja o mecanismo defensivo mais observável nos pacientes hospitalizados, já que, ao negar, evita-se contato com a dor e o sofrimento, na ilusão de proteger dos perigos. Na regressão, observam-se reações e comportamentos regredidos, numa condição de dependência dos cuidados da equipe. Já a intelectualização é um mecanismo em que tende a desconectar do afeto, permanecendo mais no nível cognitivo. E na projeção, o indivíduo dirige sua raiva e agressividade em relação a sua condição de doente para a equipe.
O indivíduo hospitalizado experimenta uma série de perdas, sejam elas simbólicas ou reais: perda do corpo sadio, de um membro (no caso de amputações), do equilíbrio emocional, do trabalho (nos casos em que a doença ou tratamento exige), da segurança, da autonomia e independência, e até da própria vida.
Durante a internação ou descobrimento da doença o indivíduo se depara com uma das dores mais temidas – da finitude, da morte. Internado, presencia outras pessoas adoecendo e morrendo. Nesses momentos, é possível se dar conta da fragilidade humana.
Esse indivíduo necessita ser ouvido e compreendido em seu sofrimento, que é físico, emocional e social. Promover espaço para a livre expressão dos sentimentos contribui para minimizar o sofrimento causado pela hospitalização.
É possível também ao indivíduo ressignificar a doença. Quantas pessoas conseguem rever seus valores e ter novos sentidos para sua vida após o período de adoecimento? É preciso resgatar a essência de vida, que foi interrompida pelo diagnóstico.
Nesse contexto, o psicólogo pode contribuir sob um olhar humanizado. Através de um espaço de escuta, este profissional pode auxiliar o paciente a identificar seus sentimentos, compreender o significado da doença e reconhecer suas potencialidades, minimizando assim o sofrimento provocado pela hospitalização.
Vale ressaltar que parte das pessoas que passam por um processo de doença e de hospitalização consegue uma boa resolução emocional. Porém, outra parte necessita de apoio e ajuda especializada, o que dependerá da estrutura emocional, história de vida, rede de apoio psicossocial, da natureza da doença e do prognóstico.
Fontes:
CAMON, V. A. A. (Org.). O Psicólogo no Hospital. In: CAMON, V. A. A. (Org.). Psicologia Hospitalar - Teoria e Prática. São Paulo: Pioneira, 1995.
SEBASTIANI, R.W. Aspectos emocionais e psicofisiológicos nas situações de emergência no hospital geral. In: ANGERAMI, V.A. Urgências Psicológicas no hospital geral. São Paulo: Pioneira, 1998.
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